Marinha comemora 154 anos
da Batalha Naval do Riachuelo
Com a ajuda do historiador Maurim Rodrigues,
selecionamos algumas curiosidades sobre o mais decisivo confronto da
Guerra do Paraguai, travado entre brasileiros e paraguaios
no dia 11 de junho de 1865.
Guerra do Paraguai, travado entre brasileiros e paraguaios
no dia 11 de junho de 1865.
Protásio de Morais | Secom/MT
Cópia do original de Vitor Meirelles: a Batalha Naval do Riachuelo. Autor: Oscar Pereira da Silva (1867-1939). - Foto por: Reprodução |
A famosa Batalha Naval do Riachuelo, ou simplesmente Batalha do Riachuelo, foi travada no dia 11 de junho de 1865 e é considerada uma das mais decisivas da Guerra do Paraguai. Uma das muitas batalhas dessa guerra que persistiu de 1864 a 1870.
Para
o historiador Maurim Rodrigues Costa – professor há mais de 35 anos - existem
algumas versões para as motivações da mais sangrenta guerra da América do Sul.
Além da versão revelada pelos militares, que ganhou força com a proclamação da
república, existem outras duas vertentes famosas sobre a Guerra do Paraguai, de
acordo com o professor Maurim.
“O
ponto de vista do historiador Júlio José Chiavenato, revelado em seu livro - A
Guerra do Paraguai, de 1960 - apresenta uma visão economicista. A teoria elege
a Inglaterra como a grande vilã da guerra, responsável por financiar a Tríplice
Aliança por interesses econômicos”, resume.
Outra
teoria é a do professor da Universidade de Brasília, Francisco Doratioto,
impressa no livro “Maldita Guerra”, lançado em 2002. “Uma crítica às versões
anteriores. Mais do que batalhas e personagens, as pesquisas de Doratioto
trazem o lado humano, social e político do conflito. O livro dele virou
referência no assunto, especialmente no que se convencionou chamar de ‘Nova
História da Guerra do Paraguai’”, revela.
Diante
de tantas linhas de pensamento, vamos nos ater a simplificar a Guerra do
Paraguai baseada na versão dita oficial ou mais publicada pela historiografia
brasileira.
A
origem do conflito
A
Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado ocorrido na América do Sul. E a
Batalha do Riachuelo foi decisiva para as resoluções da guerra. Mas antes de
chegarmos ao mais influente combate desse conflito, precisamos compreender os
motivos que levaram Paraguai, Brasil, Uruguai e Argentina a derramarem sangue
por mais de meia década.
Em
1862, após a morte do ditador paraguaio Carlos Antônio Lopez, assumiu o poder
seu filho, Francisco Solano Lopez. Ele iniciou amplas reformas no país,
modernizando suas indústrias e, principalmente, as forças armadas. Entretanto,
o Paraguai não possuía uma saída para o mar. Então, Solano Lopez iniciou uma
parceria com Atanasio Cruz Aguirre, que liderava um governo provisório no
Uruguai. Lopez pretendia, com essa parceria, obter livre trânsito fluvial até o
Atlântico, podendo estabelecer assim, contato comercial com a Europa.
No
entanto, em 1864, graças a uma intervenção brasileira, Atanasio Aguirre foi
deposto no Uruguai, prejudicando assim os planos paraguaios. Como represália,
Solano Lopez aprisionou o vapor brasileiro Marquês de Olinda. O navio
brasileiro navegava rumo a província de Mato Grosso, transportando Frederico
Carneiro de Campos, o novo presidente da região, que morreria vítima de maus
tratos.
Nomeado presidente de Mato Grosso em 1864, Frederico Carneiro de Campos viajava para tomar posse, capturado por Solano Lopez, um dos fatos que dariam início à guerra contra o Paraguai |
Algumas
semanas depois, no início de dezembro de 1864, antes mesmo de declarar guerra,
Solano Lopez invadiu a província de Mato Grosso, dando início a Guerra do
Paraguai. “Nessa época, o Paraguai tinha forças militares muito bem armadas e
organizadas, superiores as forças argentinas e brasileiras. Alcançando assim
grandes e importantes vitórias nos primeiros meses da guerra. Naquele tempo,
praticamente não haviam estradas e as notícias, que iam a cavalo, demoravam a
chegar para o imperador Dom Pedro II”, explica o professor Maurim.
Nesse
meio tempo, as forças paraguaias contaram com passagens, praticamente livres,
pela região, invadindo Corrientes, na Argentina, a partir de onde pretendiam
invadir o Rio Grande do Sul e o Uruguai.
Na
primeira fase da guerra, entre 1864 e 1865, o Paraguai avançou imparável pela
Argentina e pelo Brasil, conquistando amplas regiões. “Um primeiro passo
importante para Solano Lopez, que sonhava com o “Grande Paraguai”, um país que
se estenderia até o oceano Atlântico, passando pelo norte da Argentina e por
todo o sul do Brasil, abrangendo também o Uruguai”.
A
Tríplice Aliança
Para
fazer frente aos planos de Solano Lopez, no primeiro dia de maio de 1865, o
Brasil, a Argentina e o Uruguai assinaram, em Buenos Aires, o Tratado da Tríplice
Aliança contra o Governo do Paraguai.
Algumas
pesquisas indicam que, mesmo as forças combinadas desses três países
(totalizando 40 mil soldados), no início da guerra, eram inferiores aos 80 mil
soldados do Paraguai. “Mas o Brasil tinha uma vantagem enorme, sua marinha de
guerra era composta por 42 navios, mais de 200 bocas de fogo e 4 mil homens bem
treinados. Os aliados sabiam que a única forma de vencerem as forças paraguaias
era por meio de ações navais na bacia do Prata, com o objetivo de isolar as
várias unidas terrestres paraguaias espalhadas pela Argentina e Brasil”,
analisa o professor.
A
batalha naval
Sem
estradas, era pela bacia do Prata que os exércitos se comunicavam,
transportando ordens, munições e suprimentos. Assim, quem dominasse os rios,
estaria um passo à frente do adversário. “Solano Lopez sabia disso e assim
planejou um ataque surpresa contra a esquadra brasileira, ancorada ao longo do
arroio Riachuelo, um dos afluentes do rio Paraguai, na província argentina de
Corrientes”.
O
plano era atacar os navios brasileiros nas primeiras horas da madrugada do dia
11 de junho de 1865, mas algumas embarcações paraguaias tiveram problemas. Com
o atraso, o fator surpresa foi por água a baixo. A esquadra brasileira liderada
pelo então almirante Francisco Manuel Barroso da Silva foi alertada às 9h da
manhã, sobre a aproximação dos navios paraguaios. Rapidamente entrou em
formação de batalha.
A
força paraguaia era formada por oito navios com 38 bocas de fogo, 1200
atiradores do exército e alguns canhões estrategicamente posicionados nas
barrancas da foz do Riachuelo. O ataque começou com a frota paraguaia descendo
o rio e atacando a frota brasileira. Com a troca de tiros, algumas embarcações
de ambos os lados foram danificadas.
Próximo
das 11h, tem início a segunda carga, dessa vez é a frota brasileira que toma
iniciativa e segue em direção ao inimigo. Os canhões paraguaios posicionados
nas encostas abrem fogo e danificam seriamente a Corveta Belmonte (navio de
guerra que serviu a Armada Imperial Brasileira). Por volta do meio dia, a
situação da frota brasileira é crítica, com dois navios encalhados e a Corveta
Parnaíba correndo risco de ser capturada.
"A Vitória da Armada Imperial na
Batalha Naval do Riachuelo” pintura de Eduardo de Martino, 1875.
“Mas
quando tudo parecia perdido, por volta das 13h, duas embarcações brasileiras
chegaram para socorrer a Corveta Parnaíba, obrigando os paraguaios a
abandonarem a abordagem. A bandeira brasileira foi novamente hasteada. Às 14h,
a batalha estava indefinida, com muitas baixas de ambos os lados”, detalha.
A
Fragata a vapor Amazonas, da frota brasileira, avançou águas a cima lançando-se
contra o Vapor Jejuy (navio de guerra da Armada Paraguaia), que naufragou. Em
seguida, a Fragata Amazonas de Barroso atacou várias outras embarcações,
desmontando a frota paraguaia que se viu tragicamente reduzida a cinco navios,
batendo em retirada às 17h30.
Com
a vitória brasileira, o Paraguai perdeu grande parte da sua força naval, dando
à Tríplice Aliança, o controle sobre bacia do Prata, resultando no isolamento
das várias unidades terrestres paraguaias que combatiam na Argentina e no
Brasil. Apesar do Paraguai ainda possuir uma força terrestre superior, sem o
controle da bacia Platina, as tropas de Solano Lopez foram obrigadas a recuar,
iniciando uma longa e desgastante guerra defensiva.
Consequências
A
Batalha Naval do Riachuelo impôs uma séria derrota ao Paraguai. Embora a guerra
tenha se prolongado até 1870, a vitória nessa batalha foi determinante para o
avanço dos aliados, contribuindo para a derrota paraguaia.
Quando
o assunto é Guerra do Paraguai, existem muitas pesquisas que divergem em alguns
pontos, números e motivações. Entretanto, é certo que todos os pontos de vista
consolidam o entendimento de que, à época, quem dominava os rios dominava a
guerra.
“Uma
legitima e intrigante batalha naval nos rios do Prata. Foi travada nos espaços
reduzidos dos rios, com bancos de areia que tornavam as manobras difíceis,
exigindo daqueles que desconheciam a região, maior agilidade e capacidade de
decisão”, atribui o professor Maurim.
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* Este texto é uma homenagem à nossa Marinha do Brasil e sus briosos combatentes
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